segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Memórias de Estágio - A Ludicidade na Educação Infantil: Perspectivas sobre o Brincar e o Aprender






Muito se discute sobre a importância da ludicidade e suas implicações, porém, há ainda a significante necessidade de se observar e pesquisar o chão da escola; sobre os espaços e os recursos lúdico-pedagógicos no âmbito escolar, saindo da teoria para a prática. Com base nisto, buscamos analisar sobre a presença e o uso destes elementos na escola, visando ainda compreender de que modo influenciam no processo de aprendizagem.
O presente trabalho se deu a partir de uma pesquisa exploratória de base inicial, desenvolvida através de uma observação investigativa com base na cultura e nas práticas escolares em um período de 10 dias, sendo estes do dia 7 ao dia 19 de outubro, levando em conta um final de semana, e o feriado do dia do professor. 
Realizamos a pesquisa em uma escola da rede privada, localizada em um bairro periférico do município de Jequié, no interior da Bahia. Os nomes usados para se referir a escola e as pessoas envolvidas na pesquisa são inteiramente fictícios, pois, nosso interesse não é a denúncia destes, mas sim a análise do tema por nós proposto.
Esta pesquisa tem como objetivo analisar de que forma os espaços e recursos lúdico-pedagógicos propiciam meios de aprendizagem, interação e socialização na Educação Infantil, visando analisar também como estes elementos vêm sendo utilizados, investigando, consequentemente, o diálogo existente entre o ato do brincar e do aprender dentro do processo educativo, e de como estes influenciam diretamente na formação da criança como ser social e em sua construção individual e coletiva. 
Pensamos também que os benefícios do brincar não se restringem na infância, pois o ato do brincar é essencial para o desenvolvimento da criança, e assim, carrega consigo o aprendizado para toda a vida. Assim também não visamos aqui a ludicidade como algo solto, mas como processo dotado de intencionalidades na aprendizagem.


Vygotsky (2007) traz a importância do brinquedo na infância e da interação ocorrida entre a criança e o brinquedo. De acordo com o autor, o brinquedo é um elemento fundamental para o desenvolvimento da criança. Segundo Vygotsky:

[...] “No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além do seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que ela é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele mesmo uma grande fonte de desenvolvimento.” (VYGOTSKY, 2007, p.134).

Assemelhando-se demasiadamente à visão de Vygotsky, Froebel (1877) vem falar sobre as brincadeiras. De acordo com a visão frobeliana, as brincadeiras são de extrema importância para o desenvolvimento da criança, pois estas estimulam o ato de pensar, refletir, assim como estimulam sua imaginação e sua criatividade. O autor traz também a valorização do brincar livre, espontâneo. No brincar, a criança é livre, sem amarras, sem padrões, portanto, se expressa como realmente é. Como afirma Froebel:
As brincadeiras são as folhas germinais de toda a vida futura; pois o homem todo é desenvolvido e mostrado nela, em suas disposições mais carinhosas, em suas tendências mais interiores.” (FROEBEL, 1877, p. 55-56).

Para trazer o conceito de ludicidade, utilizamos a definição de Almeida (2009), a qual apresenta a ludicidade sendo um aspecto de grande relevância para a  construção do indivíduo e que funciona como facilitador no processo de ensino aprendizagem. Indo mais além no que diz respeito a ludicidade e o processo de desenvolvimento, Almeida afirma que a ludicidade não é diversão somente, no entanto, ela é uma necessidade do homem, seja qual for a idade, visto que o lúdico auxilia no processo de desenvolvimento de diversas áreas da vida humana. Para a autora:



“A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.” (ALMEIDA, 2009).

Silva traz o conceito de aprendizagem a partir de Vygotsky, afirmando que a aprendizagem se dá através de experiências sociais.
“A aprendizagem é uma experiência social, mediada pela utilização de instrumentos e signos.”  (SILVA, 2019).
A metodologia utilizada para o desenvolvimento desta pesquisa foi dividida em três etapas: a primeira, partir de uma observação investigativa e participante - modus vivendi - onde observamos, por uma via antropológica, os hábitos praticados na Escola Aquarela, mais precisamente na turma do maternal, seguindo seus horários e seus rituais; na segunda etapa, realizamos uma entrevista com a professora regente da turma observada e com a diretora da escola. Tendo como encerradas as etapas anteriores, fizemos a análise e o desenvolvimento dos aspectos observados durante a observação e a entrevista.
A escola observada foi a Escola Aquarela, localizada no bairro Cidade Nova, próxima a BR 116. A instituição foi fundada em 2014, possui 170 alunos, sendo 2 autistas. Há 6 turmas por turno, e, segundo a diretora, Dona Mônica, a escola possui um PPP. Ela diz que todos os professores atuantes na escola possuem formação. 
Conversando com Magali, professora regente da turma por nós observada, perguntamos como ela enxerga a relação do lúdico e das brincadeiras na aprendizagem das crianças. Ela respondeu da seguinte forma:

“Brincar faz parte da infância. Sendo assim, o lúdico é um grande facilitador no processo de aprendizagem das crianças. O lúdico pode ajudar tanto no campo cognitivo, quanto no psicológico, social e afetivo. Neste sentido, associo o lúdico e o brincar como uma prática pedagógica de enorme contribuição para o desenvolvimento infantil.”



Analisamos que, há a presença de espaços e recursos lúdicos por toda a escola, assim como um forte uso da ludicidade no desenvolvimento das aulas e das atividades propostas. Percebemos, porém, que não há muito tempo destinado ao brincar livre. A escola possui uma área com parquinho e um espaço para as crianças, porém as crianças quase não os usam. Na hora que seria do recreio, elas lancham na sala, e lá permanecem. Quando brincam, é sentados, com uns brinquedos em cima da mesa. Se correm ou saem da sala, são logo repreendidos pela auxiliar de classe, que pedem para as crianças pararem com a bagunça e sentar quietos.
A professora não consegue administrar o tempo para aplicações das tarefas; antes que consiga concluir a última atividade chega o horário das crianças irem para suas casas. 
Através dos resultados obtidos na observação das práticas executadas na Escola Aquarela e da observação de sua cultura escolar, mais precisamente na turma do maternal, analisando a presença do lúdico no processo educativo e o diálogo estabelecido entre o brincar e o aprender, foi possível concluir que a ludicidade e o ato de brincar são fatores de extrema importância na aprendizagem e na formação da criança, visto que estes influenciam diretamente na socialização, na interatividade e na construção individual e coletiva do indivíduo. As crianças da turma do maternal se envolviam muito mais nas atividades lúdicas e dinâmicas do que nas atividades tradicionais e mecânicas. Vimos que algumas crianças, mesmo tão pequenas, já são reprimidas, introvertidas, e isso, sem dúvida, não pode passar despercebido.
Em síntese, foi uma boa experiência, tantos pelos pontos negativos quanto positivos. Fizemos das vivências destes 10 dias, um período de construção, e, ao mesmo tempo que observamos e analisamos as práticas escolares, a turma do maternal, os alunos, a professora etc, observamos e autoanalisamos a nós mesmas, entendendo que, se queremos ver mudanças na educação e nas práticas escolares, nada melhor que começarmos por nós mesmas enquanto docentes em formação.



Obrigada pela sua visita pelas nossas experiências. Esperamos ter acrescentado algo!
Um enorme e caloroso abraço,
As estagiárias :)

by:  Andreila Alcântara Teixeira e Larisse Oliveira Araújo


REFERÊNCIAS