domingo, 3 de novembro de 2019

Memórias de Educação Infantil - A INFÂNCIA E O QUINTAL: Uma história marcada pela imaginação






        Nasci e cresci em Jequié, cidadezinha interiorana localizada no interior da Bahia, onde moro até hoje com meus pais e meu irmão mais novo. Minha infância foi fortemente marcada pela leitura e pelas brincadeiras, assim como também foi marcada por muito amor e carinho, e pelas curiosidades e descobertas. Sempre fui muito à frente do meu tempo. Por ser muito curiosa, sempre gostei de questionar a origem das coisas, “o porquê disso e daquilo”. Também sempre tive uma imaginação muito ativa, e muita criatividade. Tenho lembranças maravilhosas da minha infância, que, para mim, foi um momento inquestionavelmente mágico e inesquecível, o qual compartilharei aqui, com muita alegria e euforia. Vamos embarcar nessa aventura comigo?

         Meus pais dizem que, desde que eu era bem pequena, ainda bebê, eles liam histórias para mim, mesmo achando que eu não entendia, apesar de dizerem que eu ficava atenta, a olhar o que eles estavam falando comigo. As histórias que eles mais contavam, eram as da bíblia, como exemplo, a história de Moisés, de Daniel, e dentre tantas outras, a história de Jesus. Sempre compravam livros para mim, mesmo quando eu ainda não entendia as palavras e só os folheava e os olhava. 

       Este hábito se perpetuou por toda a minha infância. Assim como os meus pais, algumas pessoas da minha família participaram ativamente da minha educação e da minha infância. Liam pra mim, me contavam histórias, e me passavam muito amor e carinho. Como sempre tive muita imaginação, esses momentos eram mágicos para mim. Ao ouvir as narrativas e textos recitados, eu viajava para outro universo, me imaginando nos contos e relatos contados, e ficava extremamente ansiosa para que logo, fosse eu a ler e a contar as histórias, tanto que, quando eu aprendia uma, queria contar para todo mundo repetidamente.

       Sempre gostei muito de brincar, e de inventar brincadeiras. As minhas melhores e maiores lembranças em relação a estas, são do meu quintal - e daí o título deste relato. A casa na qual cresci, e a qual moro até hoje, possui um enorme quintal, com árvores, terra, e muito espaço para correr e brincar. Meus primos sempre vinham à minha casa, e quando isso acontecia, íamos diretamente pro quintal. Fazíamos de lá, o nosso universo infinito, onde éramos heróis, príncipes, princesas, reis, rainhas, detetives, monstros, chefes de cozinha, aventureiros a procura de desafios. Éramos tudo o que queríamos ser e quando queríamos ser. Às vezes, éramos até várias coisas ao mesmo tempo. Viajantes no tempo e no espaço, revestidos pela imaginação e pela liberdade.

      Lá também, dividíamos e partilhávamos a nossa vida e os nossos sonhos. Aprendíamos sempre uns com os outros, através de nossas vivências e experiências particulares e coletivas. Como éramos de idades diferentes, e alguns já estavam na escola e outros não, uns em séries mais avançadas que outros, compartilhávamos nossos conhecimentos e descobertas. Era uma troca mútua de saberes.
  
      No quintal, tínhamos um balanço, sombra. O lençol, virava tenda, barraca na floresta, castelo em um reino nem tão distante. E tinha uma árvore, que hoje, tem a minha idade, 20 anos, um pé seriguela. De tão querida, já era até mesmo nossa amiga. A nomeamos como Gertudres. Nela, era onde acontecia a maior parte de nossas brincadeiras, e ela, de tão íntima, conhecia os nossos maiores segredos.

      Durante a minha infância, também gostava muito de ter meus momentos sozinha, era quando eu entrava no “meu infinito particular”. Amava entrar no meu quarto e dedicar um momento a leitura, a escrita e/ou aos desenhos. Lia livrinhos, gibis da Turma da Mônica e da Luluzinha, amava escrever textos, poemas. Passava horas desenhando. Gostava muito de desenhar roupas, e dizia que, quando crescesse, iria ser estilista, e que teria o meu próprio ateliê. Acredito eu que essa inspiração vinha de um seriado americano que fez parte da minha vida, chamado “As visões da Raven”, o qual a personagem principal (Raven), desenhava suas próprias roupas e sonhava em ser estilista. 

      Bom, não teria como eu falar da minha infância, e da criança que eu fui, sem relatar meu período na escola, mais precisamente na educação infantil e no ensino fundamental I. Minha vida escolar começou aos meus 4 anos, pelo fato de que, por minha educação e minha alfabetização ter tido início dentro de casa e dentro dos outros ambientes e meios ao quais estava inserida(família, igreja etc.), meus pais optaram por não me matricular com 3 anos, que supostamente cursaria a série maternal, então me matricularam aos 4, na série infantil.

       Há uma lembrança muito engraçada em relação ao meu primeiro dia de aula, que carrego comigo. Eu era muito apegada a minha mãe, então foi bem difícil “deixá-la” para ir para a escola. Ela, juntamente com a minha vizinha, foram me levar em meu primeiro dia, e, ao chegar na porta, eu comecei a chorar muito, não queria entrar de jeito nenhum na escola. Depois de várias tentativas de me fazer ficar, fui para o colo da minha professora, que por sinal, era amiga da família. O argumento que minha mãe usou para me convencer, foi o de que ela estaria me esperando lá fora o tempo todo, até o momento de irmos embora. Eu então, acreditei. 

      Ao dar o horário de sair, ela estava lá, como disse que estaria, e fomos para casa. Ao chegarmos, me deparei com um bolo em cima da mesa, o qual não estava lá antes de eu ir para a escola, então eu, muito observadora, questionei: - “Mamãe, se você disse que ia ficar o tempo todo do lado de fora da escola, como que fez o bolo?”. Até hoje sempre lembramos disso e damos muita risada. Depois desse dia, não chorei mais para não ficar na escola, pelo contrário, me adaptei muito bem. Meus pais me contam que, no finalzinho da tarde, eu chegava em casa já abrindo a mochila querendo fazer as tarefinhas, antes mesmo de tomar banho e comer.

      Dentre tantos livros que fizeram parte da minha infância, houve dois que mais me marcaram. O primeiro foi o livro Gigi, a girafa elegante. O segundo, foi um livro chamado Qual é a cor do amor?. Este representa uma parte muito importante da minha vida, pois o recebi, na escola, em um período muito significante, onde houve dois acontecimentos. Aos 5 anos, ganhei meu tão sonhado irmãozinho, e com isso, tive um processo de ciúmes por, até então, eu ter sido a filha única, por conta disso, regredi temporariamente em alguns aspectos. Um deles, foi a questão de dormir na cama dos meus pais. Eu já estava habituada a dormir sozinha na minha cama, mas, nesse período, eu voltei a dormir na cama deles e chorava muito quando eles não deixavam. Nesse período, ganhei esse livro na escola, o qual me apaixonei, e, a partir daí, tive uma ideia para solucionar o meu problema. Eu pegava o livro, todas as noites, e o lia até pegar no sono. Já não estava mais a dormir só na cama, pois tinha um companheiro fiel.


        O livro contava a história de uma menina branca e rica, filha única de pais extremamente preconceituosos. Um dia, ela estava no banco com seu pai, e, muito curiosa, foi atrás de algo que lhe encheu os olhos e acabou se perdendo do seu pai. Por ironia do destino, ela foi acolhida por uma família negra e com baixas condições financeiras, que a achou perdida, a levou pra casa e cuidou dela, até os pais chegarem. Vendo a família negra, o pai da menina tomou um belo susto, mas ali aprendeu a lição. O amor não tem cor, nem raça. A leitura deste livro foi fundamental para a minha construção pessoal, e para a construção da minha identidade.

      Carrego um sentimento muito bom e prazeroso em relação a minha infância. A minha infância foi o período em que mais senti liberdade de poder ser quem eu era, e no qual, a minha imaginação e a minha criatividade mais se faziam presentes. Posso dizer que fui uma criança muito feliz e ativa, e que aproveitei cada pedacinho da minha infância.

     O amor e atenção da minha família e das pessoas a minha volta para comigo, assim como a companhia dos meus primos na minha infância, e as nossas trocas de experiências e saberes em meu quintal, e todas as minhas vivências escolares, contribuíram fortemente para a minha construção pessoal, e para o meu processo de aprendizagem e formação.

     Hoje, me encho de alegria ao ver que, o meu quintal, o que pra mim sempre foi uma espécie de paraíso, hoje é ainda um gerador de sonhos. Meus primos mais novos e os filhos dos vizinhos, brincam frequentemente nele, e eu fico ali, observando as interações, os laços construídos, as brincadeiras, a socialização, a imaginação e a criatividade fluidas naquele quintal, naquele que um dia foi meu, a base da minha infância, e percebo, enquanto os observo, que a criança que um dia fui, em mim nunca morreu, viva esta permanece dentro de mim.




Memórias da Minha Alfabetização - Vivências com a Leitura e a Escrita



O presente memorial é o resultado de uma atividade proposta pela disciplina de Alfabetização I, do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Campus Jequié, sob orientação da Profª Ma. Rosangela Alves de Oliveira. Este tem por objetivo descrever a minha trajetória durante o meu processo de alfabetização, dando foco às minhas experiências com a leitura e com a escrita.

Bom, me chamo Larisse Oliveira Araújo, tenho 20 anos. Nasci na cidade de Jequié-BA, onde moro até hoje. Tenho apenas um irmão, e sou a primeira filha dos meus pais. Minha infância foi fortemente marcada pela leitura e pela escrita, assim como também foi marcada por muito amor e carinho, e pela curiosidade das descobertas. Meu percurso pela alfabetização foi, sem dúvidas, um momento mágico e inesquecível, o qual compartilharei aqui, com muita alegria.

Para dar início a essa viagem no tempo, começarei contando sobre os meus primeiros contatos com a leitura e a escrita. Estes, ocorreram muito antes que eu iniciasse minha vida escolar. Não só dentro da minha casa, como também dentro da minha família, sempre tive muitas referências, e sempre fui bastante incentivada quanto a leitura. Meus pais dizem que, desde que eu era bem pequena, ainda bebê, eles liam histórias para mim, mesmo achando que eu não entendia, apesar de dizerem que eu ficava atenta, a olhar o que eles estavam falando comigo. As histórias que eles mais contavam, eram as da bíblia, e sempre compravam livros para mim, mesmo quando eu ainda não entendia as palavras e só os folheava e os olhava. 

Este hábito foi tendo continuidade por toda a minha infância. Assim como os meus pais, algumas tias minhas liam pra mim e me contavam histórias. Como sempre tive muita imaginação, esses momentos eram mágicos para mim. Ouvindo as narrativas e textos recitados, viajava para outro universo, me imaginando nos contos e relatos contados. 

Minha vida escolar teve início a partir dos meus 4 anos, pois na época, meus pais optaram por não me colocar para cursar o Maternal, por isso, aguardaram e, no ano seguinte, me matricularam no Infantil. Porém, antes disso, minha educação já vinha sendo construída em casa, e dentro do meio ao qual eu estava inserida, a partir da leitura, dos rabiscos, do contato com as letras, com os números, da forma na qual eu era levada a  analisar as situações e também a partir da observação e da imitação, como por exemplo, quando no final semana, meus primos iam a minha casa ou eu ia na casa deles. Como nós tínhamos idades diferentes, uns estavam em séries mais avançadas que outros, e, nesses momentos em que nos encontrávamos - normalmente no quintal, entre os intervalos das brincadeiras - trocávamos, da nossa forma, experiências e saberes, e ,como eu era muito curiosa, absorvia muito do que eu ouvia, tanto deles quanto dos adultos em volta.

Durante o período da Educação Infantil até o Fundamental I, estudei em uma escola particular, que ficava localizada no meu bairro. No primeiro ano na escola, aprendi a copiar meu nome e também a fazer e a identificar algumas letras.


Aos 5 anos aprendi a ler, e também a escrever algumas palavras e frases. Foi um período muito prazeroso, pois eu tinha muita vontade de aprender as palavras e poder ler eu mesma ler as histórias dos livrinhos. Claro que, não lia e nem mesmo escrevia ou copiava as palavras perfeitamente. De início, a escrita era meio torta, desengonçada, e muitas vezes pareciam apenas rabiscos e rasuras, assim como a leitura também era mais dada a partir do reconhecimento de letras e palavras dentro dos textos, em alguma embalagem, ou mesmo nos letreiros de algum outdoor, mas, para mim, já era motivo de muita alegria. 

Aos 6 anos, enfim estava eu na alfabetização, um dos melhores períodos da minha vida, no qual eu realmente tive um contato mais direto e aprofundando com a leitura e a escrita. Apesar de minha alfabetização na escola ser dada, em boa parte, pelo método tradicional, foi um período maravilhoso e que ficou marcado positivamente. 

Falando na minha alfabetização, não poderia deixar de falar sobre a minha professora, que hoje, se tornou uma amiga, e é uma das minhas maiores referências e inspirações estar cursando Pedagogia. Pró Eliane, era como a Professora Helena, de Carrosel. Uma professora que em seus olhos, transmitia ternura, e que em seus atos, transmitia amor no que fazia. Ela fazia com que nós, alunos, nos sentíssemos à vontade na sala de aula, e tinha um respeito muito grande pelo tempo de cada um. Buscava saber como estávamos, como nos sentíamos, como eram as coisas na nossa vida. Procurava proporcionar experiências prazerosas de aprendizagem, e também proporcionar momentos de reflexões, nos fazendo pensar, e não só reproduzir. Em relação à escrita, a pró utilizava bastante o nosso livro de caligrafia, e, particularmente eu amava. Nele, continham textos para copiarmos com letras cursivas, muitas imagens, inclusive, algumas para colorirmos. 

Eu ficava super animada ao pegar a caligrafia, e ainda mais animada quando a professora, ou mesmo meus pais, elogiavam a minha letra. Era aquela sensação de que eu estava no caminho certo, a sensação de me sentir gente, ser atuante, que esteja cada vez mais ganhando a sua identidade no mundo. Também trabalhávamos com alguns textos dados pela pró. Alguns tínhamos que copiar, outros, fazíamos o reconhecimento das palavras que conhecíamos dentro do texto, e as que não conhecíamos e perguntávamos, ela nos apresentava, e nos falava sobre o significado da mesma.

Pró Eliane trabalhava e estimulava muito a nossa leitura. Em algumas aulas, lia histórias para nós, e depois, nos perguntava sobre a história (o que havíamos entendido, se gostamos, sobre quais eram os personagens etc). A maioria das histórias lidas e contadas, eram fábulas, as quais traziam um ensinamento no contexto, que valeria para toda a nossa vida. A cada unidade, recebíamos livros com essas histórias, faziam parte do material didático da escola, e eu ficava super ansiosa para saber qual seria o próximo livro. Quando eu ouvia uma das histórias lidas pela pró, ou recebia um desses materiais na escola, chegava em casa em êxtase, louca para contar para os meus pais, meus vizinhos, tias e primos a história que havia aprendido e contava várias e várias vezes a mesma história.


Um dos livros que mais marcaram esse período da minha vida, foi o livro Gigi, a girafa elegante. Foi um dos primeiros livros que consegui ler com propriedade e total entendimento. O livro falava sobre uma girafa chamada Gigi, que se achava a mais bela, vaidosa e elegante girafa, porém, algumas situações que ocorrem ao longo da história, fazem com que ela perceba que, ninguém é melhor que ninguém, e que não devemos, nunca, nos acharmos superiores. 

Voltando a falar da escrita, eu gostava muito de escrever cartas para as minhas colegas, e para familiares. Mesmo antes de saber escrever corretamente as palavras, eu fazia desenhos, colocava palavras aleatórias, e assinava o meu nome. Mais pra frente, comecei a escrever com propriedade, e com o passar dos anos, comecei a fazer escritos de minha própria autoria.

Digo sem hesitar que, minha vida, principalmente a minha infância no período de alfabetização, foi extremamente marcada pela leitura e pela escrita de forma positiva. Estas, foram peças fundamentais para hoje eu ser quem eu sou. Como fui uma criança um tanto tímida e inibida, através destas, pude encontrar a liberdade de me expressar, e até hoje, me sinto livre quando leio e escrevo.

Através da leitura, pude ir muito além da decifração dos códigos e das palavras. Aprendi a ler e interpretar o mundo, assim como também a mim mesma. Para Meireles (1979), “a leitura na infância não é um passatempo e sim uma nutrição”, e eu vou totalmente de acordo a esta afirmação.

A leitura é fundamental para o desenvolvimento e para o aprendizado da criança. Muito mais que seres alfabetizados, a leitura transforma o indivíduo em ser consciente e atuante. Como afirma Paulo Freire( 1988), “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, e foi exatamente o que ocorreu na minha infância. A partir de leituras de fábulas, livros, histórias bíblicas, gibis, e até mesmo de bulas e de embalagens, pude desenvolver noção e consciência da realidade, da vida, assim como também, pude desenvolver o meu vocabulário e a minha escrita.

Hoje, continuo encontrando prazer e liberdade no ato de ler. E sendo um tanto audaciosa, a partir da leitura, me tornei revolucionária. Esta me amplia os horizontes, e me permite conhecer mundos, culturas, entender opiniões, conhecer mais sobre alguns assuntos e, tudo isso, sem mesmo sair do lugar. Da mesma forma, a escrita desperta em mim revolução, e me instiga a ir além, a me aprofundar. Uso as palavras escritas para me desnudar, para expressar o que transborda em mim, para me permitir ser vulnerável ao outro, ao mesmo tempo que me fortaleço. Faço das palavras, a minha liberdade!

Espero que as minhas memórias tenham te inspirado. Estou feliz por compartilhar essa história com você!
Até mais e um grande abraço!